Sério, Walter?

Walter Benjamin, certa vez, escreveu sobre uma obra de Paul Klee:

 

“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.”

 

Benjamin foi um gênio! Um dos maiores! Tudo que ele escreveu foi incrível! Realizava críticas ácidas ao regime vigente (sendo um judeu na Alemanha nazista!), marcadas pelo idealismo alemão, materialismo dialético e um ocultismo meio maluco. E a análise da pintura é maravilhosa! Extremamente profunda!

 

Claro, se o quadro não fosse este:

 

Angelus Novus

É sério, Walter?!?! Vc viu tudo isso em um pombo com cara de capeta?

 

Não é difícil entender o motivo que levou o autor, escrevendo com esta profundidade, sobre coisas nada a ver, se tornar um símbolo das faculdades de ciências humanas por aí… Ah, como ele faria belíssimos textões no Facebook, se estivesse vivo.

 

Se Walter Benjamin tivesse nascido no Brasil e, em vez de ter visto o quadro de Klee, ouvido Maiara e Maraísa, certamente suas teses seriam um pouco diferentes:

 

“Há uma música de Maiara e Maraísa que se chama 10%, ou Garçolus Novus. Ela apresenta uma senhora que parece querer afastar-se do vício, mas a dor de um término a obriga. Ela está escorada na mesa, quase caindo da cadeira, mas o garçom não lhe ajuda… pelo contrário: ele já trouxe a vigésima saideira. E ela só está na terceira música! A história humana é como este garçom. O garçom histórico. Onde nós vemos uma mulher triste, ele vê uma oportunidade única de lucro: saideira sobre saideira, 10% sobre 10%. Essa senhora gostaria de deter-se, parar! Mas o garçom não troca o DVD. E esta moda a faz sofrer. E esta moda leva quase a falência de seu coração… E lá está ele, o garçom da história, que continua colocando as doses na sua frente. Aí ele a arrebeeeeeenta. E esse vício que a impele irresistivelmente, acaba lhe causando um aumento expressivo nos 10 %. Não há como voltar atrás… Ele só aumenta. E este garçom é o que chamamos felá da égua da história… E podemos encontrar ele na Cantina do Lucas, lá no Maleta, local no qual nunca devia ter ficado bêbado.”

 

Eh, Walter Benjamin, seja menas… Bem menas…