Eu sei, parece que estas dicas estão atrasadas, já que as publico no mês de agosto. Mas, “aí sim, fomos surpreendidos novamente” (GALLO, Za). Ocorre que estes conselhos não são destinados às pessoas com vida social ativa normal. Sim, são indicados àqueles seres que aproveitam a baixa temporada para fazerem a alta temporada de suas vidas. Se você é como eu, trabalhador sem filhos e amigos, os meses de agosto a novembro são ideais para as férias, com hotéis baratos, praias agradáveis, porções de batatas-fritas que não custam quarenta reais e sem crianças fedorentas.
Bem, comecemos com o básico: onde ir? Você pode optar pelo campo, mas certamente as paisagens bucólicas, belas e românticas serão depressivas. Nunca fui no campo sozinho sem ser azucrinado por ideias barangas, tais como: “Será que alguém algum dia vai me amar?”. E suicidar-se nas férias nunca é algo bom (por causa do custo do translado do caixão).
Cachoeira não parece ser uma boa ideia também. Afinal de contas, estará lá sozinho (o resto da humanidade está trabalhando) e são sempre locais muito perigosos (já leu “Feliz Ano Velho”?).
Ante o exposto, o que nos resta é o litoral! Claro, trata-se de um destino simples e não muito caro, por não estar na alta temporada dos seres humanos comuns. Mas lembre-se: Nordeste não é lugar de seres humanos comuns! Desde que inventaram as micaretas, lá sempre é alta temporada.
Também não é aconselhável o Rio de Janeiro. Definitivamente, não é! Trata-se de uma cidade linda, com belezas naturais, pontos turísticos de tirar o fôlego e muita história. O problema do Rio de Janeiro é que lá é cheio de flamenguistas. Se puder, fuja do Rio.
Ao chegar ao litoral, procure um ponto que não seja muito tumultuado. Locais “da moda” são infestados com um povo “descolado” e simpático. Evite-os, pois estas pessoas tendem a ser parecidas com os atores de “Malhação” – e é na praia que reparamos que esquecemos de ir à academia neste ano, apesar de pagar todas as mensalidades. E é lá que reparamos que os outros não se esqueceram de ir à academia.
Assim, não vá a lugares cheios! Certamente será o mais feio de lá.
Mas não adianta ir a um lugar muito vazio. Por questões de segurança, nunca é bom estar sozinho no mar. E estas questões de segurança se chamam tubarões.
Sim, eles estão lá. Eu sei. Sempre estão. Quando entro na água, eu quase os escuto: “Vamos, Lucas. Tu sabes seu destino. Venhas para o fundo, venhas!”. Canalhas morféticos caninos! Mas garanto, este meu belo corpinho eles jamais possuirão, pois eu tomo minhas precauções – e você também deveria tomar as suas!
A primeira é furar ondas apenas com os braços abertos. Já percebeu que o tubarão tem a boca na mesma direção que seu pescoço e estômago? Deus (ou o demônio) fez esse ser anatomicamente para nos engolir de uma só vez, enquanto furamos ondas. Por isso, sempre esteja com os braços abertos: se, por acaso, um tubarão estiver vindo de boca aberta, você entala. Vejamos um quadro explicativo:
Mas apenas esta medida não basta. Também criei uma linha de segurança, que se chama “jaws line survivor”. É, eu sei que não faz muito sentido o nome, mas eu o inventei quando ainda estava no nível pré-monkey de inglês.
É simples. Você deve ver onde está a pessoa mais distante da praia. Geralmente, elas são as que serão comidas pelos tubarões e são tecnicamente chamadas de “sacrifício de jaws”. São aqueles que nadam sozinhos, distantes, depois das ondas, fazendo uma espécie estranha de 400 metros medley: vão revezando entre cachorrinho, topeira alada, tijolo naufragando e “nada” de costas. São como fezes de cavalo no centro de Belo Horizonte: ninguém sabe o motivo de estarem lá. Apenas estão, esperando uma porcaria acontecer com eles.
A “jaws line survivor” consiste, assim, em criar uma linha imaginária na altura do “sacrifício de jaws”, contornando todo o beira-mar. Se ficar entre a linha e a praia, estará na zona segura! Vejamos:
Caso não seja possível montar uma “Jaws line survivor”, é melhor não entrar na água. Mas, se tiver que entrar, providencie sua segurança da melhor forma possível.
Certa vez isso aconteceu comigo. Ainda namorava a Bárbara, quando fomos visitar a mãe dela em Natal (na baixa temporada de agosto, claro!). Lá, fomos ver uma praia paradisíaca e ela me chamou para nadar. Contudo, não havia sequer um “sacrifício de jaws”, ou por ser um local muito deserto ou por ele ter sido comido um pouco antes de chegarmos.
Falei à Bárbara que eu não nadaria. Mas ela e sua mãe insistiram. Bem, então fui.
Entrei precavido, olhando para os lados e molhando meu corpo apenas com as mãos. Após alguns minutos, tomei coragem e furei uma onda com os braços e pernas bem abertos. Quando me levantei, senti algo pegando no meu braço. Quase tive um troço, acreditando que era um tubarão alado. Mas não: era Bárbara, aquela sem mãe, que queria me dar um abraço romântico. Ela me apertou e eu, vendo a oportunidade, como se estivesse brincando, a empurrei calmamente para o fundo. Mas ela voltou e me abraçou… E eu a empurrei de novo. Voltou então pela terceira vez e, como percebi que insistiria, falei para ela boiar, que eu a seguraria. Quando a peguei, orientei seu corpo, para que ficasse o mais longe possível da areia, entre mim e um possível ataque perverso e sangrento de qualquer “jaws” enviado do maligno.
Dessa forma, caso não haja, o ideal é você montar uma “jaws line survivor” artificial.
Bom, com estas medidas, tenho certeza que suas férias serão incríveis! De tal modo, desejo boa praia e um ótimo divertimento! E lembre-se: segurança em primeiro lugar sempre! Eles sabem que você irá nadar… Eles podem estar te esperando… Eu sei… Eu escuto eles nos chamando…