Alunos de todo o Brasil, unamo-nos!
Levantemos de nossas cadeiras, desliguemos a televisão, paremos de fumar maconha em saraus e lutemos contra este mal comum, que se chama sociedade ocidental, baseada na família tradicional brasileira (isto é, papai e mamãe).
A revolução proletariada urge à porta! E não importa que pareça incoerente o movimento vir justo de nós, que não somos proletariado. A verdade é que eles estão ocupados demais, produzindo os bens de consumo que nós compraremos ou ganharemos, por ser seus filhos.
Assim, a nova revolução proletariada não deve se basear no proletariado. Antes, deve abordar o conflito entre os detentores das verdades universais imutáveis aprendidas nas aulas de humanas (nós) contra a população que não está muito nem aí com estas verdades (os não “nós”), ou por serem burgueses ou por estarem preocupados em vender sua força para a burguesia (vulgo “estão trabalhando”).
Nós deveremos ser a força motriz da revolução, pois o proletariado sozinho não conseguirá fazer textões no Facebook, saraus nos Diretórios Acadêmicos e acertar ovos no Dória! Nós somos a nova classe oprimida escolhida!
E não faltam exemplos! Eu mesmo vivi a opressão universitária patriarcalista nesta semana.
Outro dia, na Letras-UFMG, fui pegar um livro, “O diário da Queda”. Como fora um pedido da professora, dos cinco exemplares, apenas um estava disponível. Com um largo sorriso no rosto, igual a de um oprimido que virou opressor, caminhei até o bibliotecário, mas ele não concretizou o empréstimo, pois eu estava com R$1,00 (um golpinho) de dívida.
Tirei o dinheiro e tentei pagá-lo. Contudo, ele me informou que não poderia receber, pois agora deveria depositar na conta da União…
Ok, achei uma atitude sensata, afinal de contas, sempre é bom tornar mais burocrático uma atitude corriqueira. Ainda mais se for para nos proteger dos bibliotecários, notórios criminosos que sempre aparecem nas listas da Lava-Jato e em almoços na casa do presidente Temer, levando um bode preto e o Gilmar Mendes.
Então, pedi para ele guardar meu livro, caminhei até ao banco, fiz o depósito e voltei, gastando, ao todo, seis quadras (unidade de medida que inventei, que muito se aproxima de um quarteirão e meio). Ao entregar o recibo, informaram que havia ocorrido um erro. Eu peguei o número identificador da biblioteca da Letras, mas deveria ter feito o depósito com o número da FAFICH (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas), local onde atrasei a entrega da outra obra.
Fui à FAFICH (duas quadras), peguei o identificador dela, depois andei até ao banco (quatro quadras), fiz o depósito e voltei à FAFICH (mais quatro quadras). O rapaz conferiu meu número, tudo certo, abateu minha dívida e me liberou. Mas na FAFICH não tinha o “Diário da queda”.
Retornei à Letras (duas quadras) e, ao chegar lá, perguntei pelo meu livro. Entretanto, o bibliotecário avisou que ele havia sido pego por outra pessoa. Argumentei que tinha o reservado, mas, de acordo com ele (o qual, pela simpatia demonstrada, certamente também almoça com o Gilmar Mendes, o Temer e o bode), eu havia demorado tanto que ele achou que eu não voltaria.
Claro que eu demorei! Eu andei quase dezesseis quadras, o suficiente para matar um porco gordo de infarto, ou até mesmo um humano sedentário roliço na minha idade. Ou seja, eu havia escapado da morte quase certa em vão!
Por isso, se o sistema bibliotecário da UFMG não for motivo para a revolução proletariada, não sei o que será!
Todavia, lembrem-se: a revolução não é apenas destrutiva! É, sobretudo, construtiva! Cada etapa dos antigos ciclos (medieval, burguês e o Super Nintendo), fora acompanhada de um progresso político correspondente. O governo atual não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa, sobretudo bibliotecária. Por isto, não adianta remediar os males sociais: devemos resetar tudo, criando uma nova forma de agrupamento social amoroso, desconstruído, lacrador, crush…
E, quando isto ocorrer, devemos repensar as bibliotecas e seu sistema de multas…