Em uma noite vendo Jornal Nacional, somos inundados com mais tragédias do que um inglês verá em toda sua vida. Acidentes terríveis, empresas que só olham o lucro, assassinatos, mortes em massa, posse na câmara dos deputados. E é complicado definir de quem é a culpa por tudo isso. É um pouco minha, um pouco sua, um pouco dos descendentes de alemães e, com certeza, é muito culpa do Erike, aquele meu cunhado que é baiano. Ou seja, temos que concordar que é de todos. E é por isso que não devíamos ter sufrágio universal aqui no nosso país.
O voto, se pensarmos bem, simplesmente privilegiou a liberdade em vez da igualdade. Imagine se fôssemos, ainda, um grande feudo medieval! Seríamos iguais: todos estaríamos fodidos. O único diferente, por sua vez, seria o nobre, que nos coordenaria. Se fosse assim, não restaria dúvidas quanto à responsabilidade do destino de nossas vidas. Se o feudo não tivesse lá muito bom, quebrado e passando por crises, resolveríamos facilmente nossos problemas: íamos lá e matávamos o nobre. Afinal de contas, como não tínhamos poder de decidir nada, a culpa não era nossa.
Atualmente, tudo isso está desvirtuado! Em vez de a responsabilidade ser de uma pessoa, fomos chamados a assumi-la desde que se iniciou a “festa da democracia” (festa esta para qual nunca fui convidado, mas, aparentemente, pago os salgadinhos e as bebidas dela).
E nem me venha falar que as eleições são importantes, pois permitem dar voz a cada um e ascender socialmente grupos menos privilegiados. Não nos enganemos! O voto não tirou a nobreza lá de cima. Apenas trocou a culpa individual pela culpa coletiva: se antes podíamos achar que o nobre era um idiota quando as coisas iam mal, agora temos que aceitar que os idiotas somos nós, que colocamos a nobreza lá.
E o pior, meu amigo, é que tenho que reconhecer que não há muito como mudar isso. O sufrágio universal virou um dogma! Desde novo ele é divulgado em escolas, igrejas, campo de futebol. Até o antro familiar foi corrompido! Hoje em dia é comum vermos pais e filhos votando no que pedirão no Ifood, se é uma pizza, um calzone ou um chinês. Um absurdo! Que saudades da família tradicional medieval, quando a mãe podia olhar no rosto de seu filho e democraticamente dizer:
_ Se não comer a couve, vou te deitar na porrada.
Bons tempos.
É, aparentemente não há como corrigir este terrível instituto que já apoderou de nossa sociedade… mas há como remediá-lo. E a solução é simples: basta abolir a eleição secreta. O ideal seria que nós, ao chegarmos à zona, em vez de mostrar a identidade, tivéssemos que logar em alguma rede social. Se sua cédula eleitoral, instantaneamente, fosse compartilhada no Instagram, você pensaria mais antes de votar, né?
Melhor ainda! Todas as cabines eleitorais deveriam ser instaladas em praças públicas, sendo acompanhadas automaticamente pela população enraivecida. Assim que saíssemos da cabine, o mesário teria realmente uma função relevante: ele avisaria, em voz alta, todas as nossas decisões:
_ Senhoras e senhores, acaba de sair da urna eletrônica o sr. Erike. Para deputado federal, ele votou em Aécio Neves.
E alguém bradaria:
_ Então foi você, fila da put@!
E todos partiríamos para cima dele.
Aaaaah, aí sim, teríamos uma verdadeira festa da democracia.