Queridos amigos, não pude escrever nas últimas semanas, pois estava visitando minha esposa aqui na Alemanha. E nem estou falando no intuito de gerar um tipo de inveja ou algo semelhante. Não, se você nunca veio na Alemanha, não sabe o que está perdendo: não está perdendo nada.
Este país nada mais é que um pântano branco dos infernos. É tipo uma Guaraparis, praia internacional que faz parte da região metropolitana de Belo Horizonte. Só que uma Guaraparis que deu errado. Em vez de areia, temos neve, que nada mais é que algo parecido com chuva, mas que tem a consistência de cuspe. Também não tem ninguém vendendo queijo coalho no espetinho. Não, eles comem pretzel, um biscoito alemão que… bom, para falar a verdade, pretzel não é tão ruim, mas é decepcionante quando se descobre que ele é feito com farinha de trigo, leite, açúcar, manteiga e ovo. Com estes mesmos ingredientes, os alemães poderiam ter feito um bolo! Mas não, apenas conseguiram fazer um biscoito de polvilho sem polvilho. Desde que vi a receita na internet, toda vez que como um pretzel fico pensando que, no mínimo, houve um aborto de um filho de uma galinha em vão.
Você pode até me falar que, pelo menos, o povo é bonito. Entretanto, fica a dúvida: de que adianta uma coletânea de Gisellles Bundchens e Tom Bradys se, para nos mantermos vivos, temos que usar cinco blusas, duas jaquetas, uma toca, luva e cachecol que tampa metade da cara? Com este tanto de roupa, pouco importa se a pessoa é bela ou não. No fundo, sempre que vemos uma pessoa formosa, ficamos desconfiados: “Será que ela é bonita e está usando cinco blusas ou é será que apenas esconde sua protuberância abdominal com uma jaqueta?”. Tenho certeza que muitos começaram a namorar em dezembro achando que era o Paulo Zulu e descobriram em maio que, na verdade, estavam namorando o Tiago Abravanel.
Na boa, considerando que a humanidade principiou no leste da África e de lá se espalhou, quero saber quem foi o brilhante que teve a ideia de parar por aqui. Não consigo nem imaginar um motivo sequer. Ninguém em sã consciência pode ter escolhido um lugar frio assim, depois de andar tantos quilômetros. Talvez tenha sido, depois da maçã, o primeiro grande erro da humanidade. É até fácil imaginar a primeira DR alemã:
_ Porra, Chucruten, eu sabia que não devíamos ter virado à esquerda no coliseu paleolítico. Poxa, é neve o dia inteiro! Tô molhado desde que nos mudamos… E nossa casa tá cheia de goteiras!
_ #Chateado. Acho que vamos ter que construir um castelo gótico, para ver se a água não acumula no telhado.
Pensando nas adversidades que eles enfrentam desde os tempos antigos, fica bem claro o motivo de a Alemanha ser um país de “primeiro mundo”. Se fosse de “segundo” ou “terceiro”, a espécie humana já teria acabado neste lugar – ou mudado para alguma praia mais próxima. No Reino da Baviera (onde fiquei), tudo tem que funcionar perfeitamente (meio de transporte, segurança, alimentação) ou o colapso seria inevitável. Por exemplo, se faltar luz por um dia, todos os aquecedores da nação parariam e a vida estaria extinta. Isso nunca aconteceria no Brasil (apesar, é claro, de termos que fazer a ressalva de que, se a luz acabar por um dia no Rio de Janeiro, acredito que a vida também seria dizimada por lá).
O Brasil que é um paraíso! Quando nossos antepassados chegaram, após caminharem anos, vindos da África, viram uma praia maravilhosa, calor, pessoas de biquíni, um homem ouvindo “Conheci a Jeniffer do Tinder”, todo mundo na boa. Então, sentaram na areia:
_ Oh, Geraldo. Será que não tínhamos que construir uma casa ou algo parecido? Sei lá. Ouvi dizer que uns primos antigos andam fazendo castelos por aí. Fora aquele seu tio das montanhas. Parece que ele começou a construir umas pirâmides e inventou o saneamento básico.
_ Parece uma boa ideia. Mas, antes, vamos pedir um queijo coalho?
E estamos pedindo até hoje!
Por isso, mil anos atrás, os alemães já tinham que montar catedrais góticas gigantescas, sistemas de drenagem, de plantação em níveis, de transferência de água. Já nossos nativos, que sabiamente pararam de caminhar em um lugar abençoado por Deus (onde tudo que se planta dá, no qual a vida em coletividade funciona, onde não precisamos lutar contra as adversidades, os problemas, a fome, a neve, a violência, a raiva e os franceses), quase mil anos depois, até hoje não precisaram inventar nem sequer o chinelo.