Eu sei que fiquei muito tempo sem escrever aqui. Inclusive, cheguei a receber algumas especulações no grupo nosso do facebook (https://www.facebook.com/LucaCreidoSA/). Será que eu havia cansado? Será que eu tinha me retirado da internet para viver meditando próximo a algum córrego de Ribeirão das Neves? Será que finalmente eu havia morrido de xistose enquanto meditava próximo a algum córrego de Ribeirão das Neves? Todavia, nenhuma dessas considerações chegou perto do motivo do meu afastamento. A verdade, meus amigos, é que eu saí do blog por ter perdido cabelo.
Mas o que isso tem a ver? É que eu sempre tive um único objetivo com este blog: ficar famoso a ponto de poder cobrar para fazer postagens no Instagram (sério, mano, nem o Neymar ganha dinheiro tão fácil assim). Este era meu plano de carreira (e da metade dos atores da Power Couple Brasil). Mas nunca deu certo. Nunca. E, na boa, já imaginou se eu finalmente me tornasse famoso bem no momento que eu estivesse parecendo um Kinder Ovo do avesso?
E eu tentei lutar contra isso! Por exemplo, ao fazer minhas orações matinais, sempre que voltava meu rosto ao travesseiro, desesperava com o tanto de fios de cabelos espalhados na fronha. Fechava, por isso, meus olhos, mas não conseguia pedir pela paz mundial, pela proteção das crianças perdidas no Peru, assim como não conseguia pedir para Deus fazer o pessoal recontar os votos e perceber que a eleição acabou empatada em 0 a 0. Não. A única coisa que eu possuía força para pedir era:
_ Deus, não deixa minha testa ficar parecida com a do André Valadão.
Ele não me respondeu. Pelo visto, Deus não responde nossos pedidos. Não quando eles são estéticos. Pelo menos, eu nunca vi um instrutor de academia religioso:
_ Olha, depois dos abdominais, você faz três séries de Ave Maria intercalado com duas Salve-rainha.
Desesperado, achei que o melhor era remediar: comecei a jogar os cabelos para frente, como se eu fosse um Beatles. Não deu certo. As entradas já apresentavam tamanhos homéricos neste momento e eu precisaria de reforços se quisesse reduzi-las. Penteei, então, as sobrancelha para cima. Novamente, em vão. Em vez delas tamparem a testa, minha insistência de puxá-las começou a fazê-las cair, criando algumas falhas. Achei mais prudente parar com aquilo: preferível é que o pessoal achasse que eu estava desfalcado de cabelos do que achar que eu tinha peladeira de cachorro.
Com o insucesso, apelei para algo que todo careca faz antes de assumir que ferrou de vez: comecei a usar boinas. Elas são ótimas, pois não apenas cobrem nossas entradas, elas desviam a atenção. Por exemplo, se você vai a uma festa de antigos amigos da sua escola e está gordinho, compre uma boina! Ninguém vai reparar em seu descuido estético intestinal. Quando passarem por você, eles não falarão: “Nossa, Jarilson, tá cheinho, einh?”. Não. Eles olharão hipnotizadamente para a boina enquanto pensam: “Que porra é essa?”.
Comecei, então, a andar com uma boina para todos os lugares. Na minha cabeça, estava lindo, quase um Che Guevara do século XXI. No entanto, depois de algumas semanas, percebi que, com meu cabelo penteado para frente, sobrancelhas para cima e boina estranha, eu fiquei a cara do Elton John antes dele usar peruca. E nem o Elton John fica bonito parecendo o Elton John.
Procurei, por fim, a ajuda de um primo, que tem mais experiência com a carequice – no caso dele, desde os 18 anos. Ele me olhou, balançou minha cabeça, puxou um pouco de fios do meu cabelo, apalpou minha nuca. Por fim, virou para mim e disse:
_ É, pelo visto, você tá parecendo o tio Chico da Família Addams.
_ Mas você acha que eu posso fazer algo?
_ Bem, você pode emagrecer. Aí, em vez do tio Chico, você parecerá um espermatozoide.
E foi aí que resolvi assumir a testa quilométrica e parei de escrever. Parei, pois fiquei atormentado com uma pergunta: e se, finalmente, depois de mais de 50 crônicas, eu lançasse uma boa? Já pensou se eu virasse famoso? Justamente na época em que eu estivesse careca? E se alguém pagasse para fazer uma propaganda no meu Instagram?
Provavelmente, tratar-se-ia de uma propaganda gospel, já que meu sucesso seria avaliado como um milagre – do nível do milagre que foi quando o Naldo tornou-se famoso por “Vodka com água de coco”, ou, ainda, o Bolsonaro ter sido eleito (lembrando que Satanás também faz milagre). O que seria de mim?
Fico imaginando a Bárbara, minha esposa, vendo-me no Instagram, segurando um cartão de crédito Gospel do lado de um slogam: “O cartão FÉ levou sobre si todas as nossas dívidas*”. E, em letras minúsculas, no fim da foto: “*Levou todas nossas dívidas para parcelar elas em 12x”. Bárbara, vendo essa belíssima propaganda, inevitavelmente pensaria:
_ Nossa, quando o Lucas posta propaganda no Instagram, ele fica muito parecido com o André Valadão.
Vários casamentos foram arruinados por muito menos.
Por isso parei de escrever. Mais vale a pena um careca anônimo do que um famoso parecido com o André Valadão.