Se possuímos alguma certeza hoje em dia é que as coisas estão mudando. E não importa o quanto você é descolado, você não acompanhou o movimento! As mudanças são mais rápidas que nossas aptidões para aceitá-las.
Eu também não recebi muito bem as últimas mudanças. Acho que a derradeira revolução que eu acompanhei de perto foi o fim da MTV e a explosão do YOUTUBE. E, para ser sincero, não gostei nem um pouco: trocamos os clipes pelos youtubers mergulhados em banheiras de Nutella (https://www.youtube.com/watch?v=9XxmXscj-Gc). Há cinco mil quatrocentos e setenta e duas formas adequadas e catalogadas por mim de se usar Nutella, mas nenhuma delas foi descoberta por youtubers.
Depois disso, muita coisa mudou. Mas muita mesmo.
Ao que tudo indica, nada mais é feito para durar. Nem relacionamentos! Hoje, quando uma pessoa começa um namoro (ou até casa!), já pensa no que vai fazer quando terminar. Por isso é tão comum que mantenham um crush, mesmo após entrar em um relacionamento sério. Se você não entende muito bem o que é isso, talvez eu não seja uma boa pessoa para te explicar (já que na época de MTV não tinha crush), mas parece algo como o ‘primeiro de fora’: se der errado, o outro entra.
Nem nossos bens duram! Lembra aquele presente que seu pai te deu quando era novo? Aquele mesmo, um autorama, uma boneca que tinha quando criança, um carrinho de ferro que ele guardou com carinho para você? E este carrinho ele tinha guardado há 30 anos, um pouco amassado, é verdade, pois fora atropelado pelo Opala do pai dele. Mas estava lá, capengando, mas lá. Foi um gesto lindo, não foi? Conservar um brinquedo para seu filho era uma das coisas mais belas que uma pessoa podia fazer.
Todavia, eis que chega a empresa Grow, no início da década de 1980, e fala:
_ F*das! Não vai ter nada para passar para a outra geração. E, se tentar colar com Super Bonder, vou grudar seus dedos com tanta força que nem mergulhar a mão na banheira de Nutella vai adiantar. Seu brinquedo vai quebrar sim! E, se reclamar, vou colocar um canivete dentro do seu boneco do Fofão.
Olhe nossos bens! Cadê eles? Cadê minhas recordações de infância? Onde foram parar meus bonequinhos Comandos em Ação? Minhas Tartarugas Ninjas? As bonecas da Barbie de minhas irmãs? Meu Pirocóptero? Meu videogame Dynavision Radical, aquele que eu tinha que soprar o cartucho, o videogame e a tomada da TV para ele funcionar, cadê ele? Cadê eles?!?! Todos estão quebrados (com exceção do Pirocóptero, que eu não sei onde está, pois o joguei do barranco um dia… e eu acho que joguei o Dynavision também). A Grow fez produtos autodestrutivos, só pode.
Nossas coisas sofrem da síndrome de smartphones: sempre que o Whatsapp é atualizado, o celular fica sem espaço na memória e deve ser jogado fora. Na vida, os smartphones são os nossos bens e a atualização do Whatsapp é último boleto que pagamos deles…
E pode piorar! Chegará um dia em que teremos que comprar nossas coisas em pouquíssimas parcelas, ou elas quebrarão antes que as paguemos. E teremos que ficar com os crushes antes mesmo de terminarmos nosso namoro, como esta semana nos ensinou a visionária Débora Secco.
E não sei como sair dessa confusão. Ao que parece, nos resta apenas conformar com um mundo em rotação frenética. Mesmo que concordemos ou não com as transformações. Isso, claro, até que um dia a mudança alcance a própria necessidade de mudança. E, neste dia, talvez eu descubra onde foi parar meu Pirocóptero e se o rapaz precisa de alguém para ajudar a comer a Nutella que estava dentro da banheira…