Prospectivas

Fazer promessas de ano novo nunca é bom! Era legal na época que eu não tinha noção do tempo. Quando se tem 5 anos de idade, 365 dias é uma infinidade! Dos 4 para os 5, aprendi a andar direito, conjugar verbos, que a Peppa Pig não existia, mas que seus parentes eram saborosos na vida real. Muita coisa. Por isso, acreditava que tudo poderia mudar neste curto espaço de tempo. Eu mesmo sempre prometia que viraria um Power Ranger.

Já com 30 anos é diferente. Não é nada. Minha única promessa que fiz para 2017, por exemplo, foi tentar aprender como se escreve 0 em algarismos romanos. E nem deu tempo.

Por isso é bom ser jovem demais, quando ainda se pode fazer igual a um político e prometer coisas que nunca cumprirá; ou ser velho demais, quando você parece com um político, e pode esquecer tudo que prometeu.

Lembro-me que, certa vez, arrumando meu quarto, deparei com um trabalho de escola, que fiz na quinta série. Seu título dizia: “O que serei aos 20 anos”. Como ainda tinha 18, resolvi ver o que o Luca de 12 anos esperava de mim:

“1.      Ser milhonário;

2.      Ter um filho;

3.      Escrever um livro;

4.      Ser popular.”

Quase não dormi naquela noite. Como já tinha noção de tempo, percebi que em dois anos não conseguiria fazer aquilo tudo. Seria triste completar 20 e perceber que o Luca pretérito acharia que eu sou “o tal do mula”. Então refiz meus planos, jogando a responsabilidade para o futuro: em dez anos, me tornaria um milionário, teria um filho, escreveria um livro e teria uma casa com churrasqueira.

A primeira grande mudança em minhas perspectivas foi desistir de ser popular, afinal de contas, depois dos 30, quanto menos pessoas você conhecer nesta vida, melhor. Se tem muitos amigos, eles fazem muitos aniversários . Na boa, para que tantas festas? Ainda mais no sábado, dia de ficar em casa vendo Zorra Total. Eu terminei várias amizades por causa da falta de noção dos amigos que me chamavam para sair. Por isso é melhor churrasqueira que amigos. Ela fede, dá fumaça, enche sua casa de cinzas, a carne fica com gosto de carvão… Mas não enche a paciência sábado de noite.

Enfim, cheguei aos trinta anos e minhas previsões dos 20 também não se realizaram. Até tentei ser milionário, mas motivos temerosos me impediram; queria ter um filho, mas mal consegui sustentar meu cachorro; quanto a escrever um livro, as vezes ainda tenho dúvida se é milionário ou milhonário, então não acho que já esteja preparado para um romance; e ainda moro em um apartamento sem churrasqueira, o máximo que eu consegui foi uma Airfryer.

Não ligo. Sempre ouvi dizer que os 30 são os novos 20! Concordo: continuamos sem dinheiro, sem prestígio e comendo hambúrguer Sadia de frango, em vez do churrasco, por causa do colesterol… sabe? Ao que tudo indica, comer papelão desentope as artérias…  

Mas tenho esperança. 2018 será de conquistas! Contudo, acho que já passei da idade de prometer coisas no réveillon. Se eu aprender qual a diferença entre os tipos de sapatos femininos, eu já ficaria feliz, pois não aguento ter continuamente a mesma conversa com os vendedores:

_ Bom dia, está procurando alguma coisa?

_ Bom dia. Estou olhando um sapato para a Bárbara, minha esposa.

_ Pois não. E está pensando no quê? Uma bota? Scarpins, espadrilles, mocassins?

_ Bom… pensei num vermelho…

Por isso minhas próximas promessas serão para daqui a 10 anos! Com 40, quero ficar milionário (ou, pelo menos, não ter mais que parcelar meu almoço de domingo no cartão de crédito), ter um filho (ou, pelo menos, arrumar alguma cachorrinha para o Apolo cruzar e virar vovô), escrever um livro (ou, pelo menos, imprimir alguns folhetos no xerox da pracinha) e ter uma casa com churrasqueira (ou, pelo menos, trocar minha Airfryer por um George Foreman Gril).

Espero que tudo dê certo… E que os 40 não se tornem os novos 20.