Mas eu não sei muito bem se vai dar certo o novo livro. “Na segunda gaveta”. Quem bota um nome assim? Horrível. Simples demais. A última vez que vi um nome tão simples assim foi minha irmã, que tem preguiça de chamar os filhos dela: o primeiro filho é o João (só João, 4 letras) e a segunda Ana (3 letras!). Se tivesse mais um, ia ter que ser Su ou Be. Um quarto e o menino já seria uma vogal solta.
É, o nome é ruim. O problema é que não é só ele. Está tudo ruim. Uma delegada com crise existencial? Sério? Que bebe muito? Não, olha só, que criatividade, um policial alcoólatra… ninguém nunca pensou nisso… Só falta agora eu colocar um carro que não liga, um bandido confessando, a Giovanna Antonelli para interpretar a delegada e já tenho todos os clichês em 30 páginas. E eu só escrevi 30 mesmo.
É ruim. Muito ruim…
A única vantagem é que sei que essa ideia atormenta qualquer autor. Aliás, por que estou falando de autor separadamente? Essa ideia atormenta todo mundo: o que eu vou fazer agora?
Como escritor, lógico, a pergunta está relacionada a um livro, mas ela passa pela cabeça de um professor, quando acaba o semestre; de um médico, quando uma operação é concluída; da minha irmã, quando vai dar o nome para os meninos dela e percebe que nomes monossílabos são raros.
Nem os mestres da cozinha, esses seres encantados que ganham a vida nos fazendo de gado de corte, nos engordando para quase uma venda casada com cardiologistas, nem eles(!) conseguem estar seguros quando pensam na próxima receita.
O Ronald McDonald, por exemplo, depois que inventou o “Quarteirão”, está derrapando por aí há muito tempo, fazendo coisas que geram vergonha alheia até em um palhaço. Outro dia fui com Barb comer um hamburguer de frango e a sensação era que o frango não era feito de frango… então nem me pergunto do que era feito a Mac Surpresa Feliz. Dificilmente era de fato um pokemon.
Mas eu concordo que tenho uma grande diferença: o Ronald McDonald tem o “Quarteirão”, um hamburguer sucesso de vendas e críticas, para chamar de seu… Mas eu, mero escritor, ainda não tenho o meu “Quarteirão”… E estou com medo dos próximos hamburgueres serem todos Mcchicken.
Bom, enfim, então essa vai ser a história desse pequeno livretinho que vou publicar aqui no meu site. Ele não vai ser um livro em si. Vai ser um livro das minhas impressões (e imprecisões) enquanto estou no processo de escrever outro livro. Deu para entender, né?
Eu sei que vários outros autores fizeram isso… por mim, tanto faz. Tem tantos autores que já escreveram sobre triângulo amoroso, desde a Bíblia, e mesmo assim nós continuamos adorando essas histórias e aprendendo com elas – menos aquela sua amiga, que continua tomando chifre.
Em resumo, é só isso. Um livro sobre um livro. Um livro sobre o “Na segunda gaveta”, meu próximo livro. A chance d’eu falar, por escrita, porque acho que o próximo livro não dará certo. E não me peça para ser mais do que isso!
Sem pressão, não espere alguma crítica literária avançada. Vão ser só pensamentos sobre os problemas que estou passando ao desenvolver a nova história. Reflexões. Como uma sessão de terapia! Claro, uma sessão de terapia, onde o paciente sou eu e o terapeuta é ninguém.
E seria ótimo se todas as sessões de terapia fossem assim.
Não me levem a mal, terapeutas. Meu último era um cara gente boa. Só tinha um problema: ele também tinha problemas. Eu contava um caso e ele contava o dele.
_ Doutor, briguei no serviço.
_ Eu também. E olha que ele era um paciente…….
Eu ficava meio puto. Não que eu não me importasse com a vida dele. Eu me importava, ele era até engraçado. Mas, assim… pelo menos na terapia eu queria por vezes sentir como se fosse a pessoa mais importante da conversa.
E no final de toda sessão, quando eu ia pagar, eu sempre tinha vontade de falar:
_ Não me leve a mal, eu te pago os 100 reais, mas você tá me devendo pelo menos 30.
E certamente ele me responderia:
_ Tomara que você gaste estes 30 reais comprando um livro de nomes de bebês para sua irmã.