A magia do natal

(AVISO: este texto pode conter spoilers do seu natal)

 

 

Sempre vejo gente reclamando que a magia do natal morreu desde que viramos adultos. Eu tenho que concordar plenamente com isso. E olha que nem acho que a culpa é da uva passas. Acredito que a magia acabou quando começamos a pagar por ela. Antes, quando nossos pais pagavam, tudo estava mil maravilhas. Hoje, a fatura do cartão mostra que não.

Meu natal já respirava por aparelhos desde meus 7 anos, anunciando sua morte vindoura. Do nada, descobri que Papai Noel não existia (bem, caro leitor, espero que eu não tenha sido o primeiro a te revelar isso), que não há renas (para mim, aquilo é veado chifrudo) e que a fábrica do Polo Norte que faz presentes se chama Grow (uma empresa multinacional especializada em fazer plásticos que valem mais que barras de ouro).

Mesmo assim, apesar de tantas revelações, continuou sendo legal por um bom tempo. Restava-me a decoração da casa, a festa do dia 24, a confraternização na família, a roupa bonita, o significado da data (que, para quem é protestante, nem tem tanto real significado, já que meu pastor insistia em dizer que Jesus nasceu em maio – sei lá onde ele achou isso na Bíblia). Eu ficava perplexo com a beleza de tudo! 

Entretanto, no dia que eu percebi que um saco de bolinhas de enfeite para árvores custava R$34,90, com oito bolinhas, todas vermelhas, nenhuma colorida, e nem com um brocalzinho, comecei a achar tudo meio baranga.

E a pá de cal foi o amigo oculto. Eis aí um joguinho de louco, que participo por mera convenção social. Se eu não entro, as pessoas da minha família ficam achando que sou pão-duro, ou que sou pobre (o que, de certa forma, é verdade, mas eu tento esconder o máximo possível). Então, sempre coloco meu nome. E olha que, este ano, a brincadeira estava R$30,00.

Não me levem a mal, eu gosto muito da minha família. Mas eu gosto muito (muito mesmo!) de ter trinta reais na minha carteira. Minha prima Tatá, por exemplo, é gente boa. Mas não sei se ela vale trinta reais. Acho que vinte reais seria uma boa cotação – e olhe lá! E, se eu contar o tanto de vezes que a tirei, já quase extrapolei este valor. Se eu tirá-la de novo, ela vai ficar me devendo.

Sabe, esta brincadeira era divertida quando meu pai pegava trinta reais da carteira e falava: “Vai lá, compra o presente do seu amigo oculto”. Hoje, tenho gostos mais exóticos. Minha maior alegria, no momento, é ver minha esposa tirar trinta reais da carteira dela, dar para mim e dizer: “Vai lá, compra pão”.

Três notas de dez é muito dinheiro para comprar presente para os outros, ainda mais sem saber o que vamos receber em troca. Um dia, farei um amigo oculto em que cada um comprará trinta reais em coisas para ele mesmo… Ficarei feliz em ganhar oito pães de sal, uma doriana, meio queijo do Serro e o troco em bala Icekiss.

Assim, quando envelheci, o natal certamente perdeu um pouco da magia. O que me restou foi o mistério: como meus pais conseguiam dinheiro para isso tudo? Como arrumavam presentes para a família, roupas de natal, panetone e até bolinhas para a árvore?

Não sei, mas acredito que talvez o natal volte a ter magia quando eu tiver três filhos, igual meu pai, e tenha que arrumar dinheiro para os amigos ocultos.