Você está nervoso com seu emprego? Acha que tudo que faz é irrelevante, desprezível e insignificante? Bem, provavelmente você tem razão. Mas fique tranquilo, pois seu trabalho não deve ser o mais descartável do universo. Em pesquisa feita por mim mesmo, ficou definido que o ofício mais desnecessário da humanidade é ser atleta de salto com vara.
E não foi fácil chegar nesta conclusão. Por anos, acreditei que este posto seria dos madeireiros especializados em tábuas de karaté. Como você bem sabe, os lutadores de karaté possuem uma guerra milenar contra ripas quadradas de madeira: ao verem uma, já descem o roundhouse kick. Já que nunca tivemos informações confiáveis de exércitos alienígenas feitos de ripa de madeira invadindo a terra, ou algo assim, essa talvez tenha sido a arte marcial mais inútil de todos os tempos (ganhando até da capoeira, uma espécie de kung fu com axé).
Todavia, se o lutador de karaté é um ser irrelevante por excelência, imagine os madeireiros que fazem as tábuas? Horas derrubando uma árvore, transportando-a, serrando-a e envernizando-a para vir um doidão e enfiar a bica nela.
Para ser mais desnecessário que este emprego, tem que se esforçar muito… E o pessoal do salto com vara conseguiu!
Poxa, eles passam 20 anos malhando de madrugada (a maioria dos saltadores só viu TV Globinho na televisão dependurada perto das esteiras na academia), fazendo todos os tipos de alongamentos (inclusive amarrando o cadarço do sapato sem dobrar a perna) e tomando Whey Protein (enquanto o resto da humanidade toma Toddy) para, se der sorte, chegar a uma olimpíada, correr 50 metros e pular com um bambu sintético em um colchão…
Se isso não for uma vida desperdiçada, eu não sei o que é…
E olha que estamos falando de olimpíadas, o antro da desnecessidade humana! Mesmo assim, perto do salto com vara, até os outros esportes parecem ter uma razão. Um atirador, por exemplo, pode um dia ser benéfico ao seu país, ainda mais no Brasil, onde ele pode virar um PM e se dedicar a combate aos arrastões na praia de Copacabana. Um corredor também pode ser necessário, afinal de contas, se é para ter arrastões na praia, é melhor que seja feito por um profissional. E mesmo ser nadador faz sentido: se está acontecendo um arrastão e tem PMs atirando na praia, talvez o melhor seja sair nadando até outro continente.
Entretanto, o salto com vara não tem nada a ver com nada. Eu não consigo achar razão daquilo existir. Até pensei que ele poderia se encaixar em alguma cena de ação no cinema, mídia conhecida pela falta de lógica. Contudo, nem no Velozes e Furiosos XXII este esporte se enquadraria. Já imaginou?
Em meio a uma perseguição, Vin Diesel encontra-se no banco de carona do seu Dodge, dirigido por algum outro ator (uma vez que não lembro o nome de nenhum desta franquia, então vou colocar a Fernanda Montenegro, para o filme ficar cult). A motorista dirige a 300km/h no Anel Rodoviário de BH, perseguindo um caminhão. Este, por sua vez, está a 50km/h, enquanto ultrapassa outro caminhão, a 48km/h (ao que tudo indica, no Anel Rodoviário, os caminhões, quando vão cortar outros veículos, devem reduzir a velocidade ao mínimo necessário para ainda serem considerados veículo automotores. Se tivessem 2km/h a menos, passariam a categoria de carroças com motor).
Estranhamente, apesar da diferença de velocidade, o Dodge continua ao lado dos caminhões. Vin Diesel pega, então, na perna da Fernanda Montenegro (que está de mini saia) e diz:
_ Fefê, chega perto daquele caminhão que eu vou pular com uma vara dentro da carroceria dele.
_ Mas Vin. – responderia a Fernanda – Você pode se machucar.
_ Fique tranquila. A carga é de colchões. Vou cair no fofinho.
Por isso, se você acha que seu emprego é uma perda de tempo, desnecessário e inútil, lembre-se das pessoas que saltam com vara. Nem na franquia mais estranha de todos os tempos do cinema, este esporte faz sentido…