Caos Horário

Quando olhamos para a sociedade, tudo que produzimos, inventamos e instituímos desde os tempos bíblicos, só podemos chegar à conclusão de que fizemos da ordem divina um gigante caos. E, certamente, nós não estamos sozinhos nessa jornada, pois não seríamos capazes de cumpri-la sem uma força externa. A criação é inequívoca neste sentido:

1-      Deus criou a luz… E o homem (por intermédio de Satanás) inventou a cortina black out – e, com ela, o sono da procrastinação nas tardes;

2-      Deus separou a luz (dia) e as trevas (noite)… E o internauta (com o auxílio do demônio da estupidez) inventou que o mundo era plano – e a diferença entre dia e noite parou de ter sentido.

3-      Deus criou a expansão no meio das águas (terra), havendo separação entre elas (os mares)… E o cidadão (assistido por um espírito de porco) jogou lixo no bueiro – e é só começar a chover que a separação entre águas deixa de existir nas grandes cidades.

4-      Deus gerou da terra erva verde, erva que dá semente de árvore frutífera, segundo a sua espécie… E o ser humano (orientado por um coisa-ruim hippie) fumou a erva – e foi criado o curso de filosofia.

Essa simples análise de nossa gênese já seria suficiente para confirmar que o homem veio ao mundo para bagunçá-lo em cooperação com o Perseguidor, mas outros exemplos não nos faltam. Como os programas de televisão dos domingos! De que jeito a Globo conseguiria bancar um programa de sucesso com pessoas comendo pizzas, tocando campainha, assistindo vídeos de cacetadas e competindo em duelos de dança com outros não tão famosos assim, em um mesmo e curto espaço temporal, se não fosse pela ajuda do Canhoto?

Mas talvez o Faustão nem seja a maior manifestação do caos em nossas vidas (já foi, na década de 90). Hoje, a balbúrdia é mais sorrateira. E essa nova forma de desordem, maior que a maior de todas as desordens (até que meu quarto de solteiro), se chama horário de verão.

Ora, trata-se, certamente, de mais uma criação humana-maligna, que ousa desafiar a separação das luzes e das trevas. Se você não concorda, provavelmente já foi laçado, meu amigo! 6 horas é 6 horas, o resto é artimanha do Jocoso!

E pagamos as consequências dessa mudança da ordem: ao colocar nosso despertador às 6 horas no horário demoníaco, acordamos às 6 horas, que na verdade são às 5 horas no horário divino, mas passamos o resto do dia como se tivéssemos despertado às 4 horas. Algumas vezes, inclusive, acordamos como se tivéssemos levantado às 3 horas, depois de ter dormido em uma cama de pregos, amarrado por sacolas de supermercado decepadoras de dedos, ouvindo Luan Santana a noite inteira.

Por isso, são nos primeiros dias do horário que experimentamos de forma mais limpa o quanto esta mudança é contrária à vontade do altíssimo. Neles, sentimos o Tinhoso nos segurar na cama, impedindo que levantemos quando o relógio desperta. A única coisa que conseguimos fazer nestes dias é apertar os “sonecas” do celular… Assim, é comum a perda de ônibus em massa, os atrasos coletivos, o mau humor universal e a ausência de crianças geradas durante tal período (ficar acordado neste horário dá uma dor de cabeça… E essa é a razão de quase ninguém nascer em junho, nove meses depois da mudança. Se nasceu, foi prematuro, ou foi gerado em um ritual obscuro).

Eu poderia continuar com outros exemplos e argumentos para provar que uma confusão dessa não pode ser de Deus, contudo, acho que já demonstrei a demonicidade da escolha macabra de adiantar nosso relógio. E se você ainda possui alguma dúvida, pense bem: as eleições brasileiras acontecem em outubro, quando já estamos no horário de verão.

Coincidência?

Eu acho que não.