Onde eu boto a moeda?

Eu não tenho muitos amigos que possuem filhos. Sabe, eu entendo perfeitamente. A maioria dos meus amigos é nerd. É difícil achar pessoas que querem se reproduzir com a gente. Minha geração nem é a nerd limpinha, que emergiu com os super-heróis nos cinemas. Nada. A minha é raiz mesmo, da época que comprávamos a revista “Dragão Brasil” e levávamos para a escola escondida, morrendo de receio de ser pego pela diretora e ter nosso pai acionado para assinar a suspensão:

_ Sério, diretora Ananilse? O Lucas com a revista “Dragão Brasil”? Meu filho? Desculpa, não criei um filho assim… Tem certeza que ele não estava com drogas?

Num mundo como esse, ser nerd era complicado! Ninguém escolhia ser nerd! A ciência mostrava que a orientação nerdal nascia conosco, marcada em nossos genes, moldada antes mesmo do primeiro respirar. Não era opção, não era fase, não era influência externa, não tinha cura: era identidade. Nerds não decidiam ser, eram. E mereciam respeito, porque negar ser nerd era negar a própria natureza humana…

Enfim, do que estávamos falando mesmo?

Sim, não tenho muitos amigos que possuem filhos por falta de prática do coito. Então, com isso, tive poucos conselhos antes de ser pai vindo de homens.

Engraçado que conselhos femininos eu tive. Algumas amigas deram dicas de roupas para grávidas; disseram para eu colocar o menino no sol, para evitar icterícia; falaram que eu tinha que colocar uma moeda no umbigo do bebê – essa dica eu não entendi, mas acho que a Shakira fez isso em um clipe e deu certo para ela.  

E não faço ideia de onde essas meninas tiraram esses ensinamentos, pois, pasmem, elas também não tinham filhos! Eu sentia como se o Padre Marcelo Rossi estivesse me dando orientações sexuais. No entanto, acabou que eu aceitei todos, até porque, perto delas, eu era um coroinha…  

Agora, em relação aos homens, acho que o único grande amigo que possuo com filho é o Leandro, que trabalha comigo. Eu fui lá conversar com ele, certa vez, um pouco depois da Bárbara engravidar.

O negócio é que o Leandro é o cara mais tranquilo do mundo. Enquanto eu estava afoito, falando de todos os problemas possíveis, ele sorria, provando ao mundo que a maconha é desnecessária se você simplesmente souber falar “fodas”. Quando perguntei para ele se tinha ficado com medo de ter filho, ele disse que sim, igual todo mundo. E foi aí, neste momento, que eu recebi quiçá o único conselho masculino que tive antes do Gabriel nascer:

_ Lucas, você não pode deixar ele cair.

_ Cair?

_ É, antes da minha menina nascer, eu fiquei com muito medo de deixar ela cair no chão. Fica de olho.

Esse certamente não foi o tutorial mais detalhado que recebi, mas foi um dos melhores. Quando saí da sala dele, eu não tive dúvida que o Leandro passou por tudo que eu passei. Temores sobre o parto; receio do filho não gostar do pai; apreensões financeiras; ansiedades em relação à saúde da gestante; preocupação se o bebê vai parecer com algum vizinho. Tudo isso ele também pensou. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que essas coisas estavam fora do alcance dele.

Eu conheço a família do Leandro, é uma família bonita e que está junta há muitos anos. O Leandro, por sua vez, parece um bom pai: cuidadoso com o futuro da filha, com as necessidades da mãe e sempre gastando o dinheiro reformando e melhorando a casa que comprou. Uma vida daquelas que vemos e admiramos…

Talvez tenha sido por isso que eu fiquei tão tranquilo depois daquela conversa.

Às vezes a gente só precisa não deixar ninguém cair no chão.