Se possível, ore para eu achar 10 mil reais no chão esta semana…

Uma das coisas mais assustadoras que já passei na minha vida foi o nascimento do meu filho. E não, nunca tive filho fora do casamento. Foi um filho esperado, planejado ao longo de 18 anos, ou seja, quase uma obra de uma grande empreitada financiada pelo dinheiro público. Então por que foi tão assustador? Pela forma como se deu. 

Eu devia esperar que fosse mesmo. A não ser a concepção, acho que todo o resto foi com adrenalina. Até descobrir que a Bárbara, minha esposa, estava grávida, foi um choque. Ela viajava para Foz do Iguaçu, para supostamente fazer um ciclo de palestras em um congresso (mais uma vez, para surpresa de ninguém, o congresso era uma cidade turística que te oferece tudo, menos vontade de ficar em um congresso vendo um ciclo de palestras). 

Era uma quinta-feira, por volta das 22 horas, quando ela me ligou. Havia passado mal, teve um problema na perna, e estava indo para o hospital. Fiquei conversando com ela, até que, por volta de umas 23 horas, falou que seria atendida. Ela não respondeu mais meus chamados, só me ligando às 2 horas da manhã. 

Lógico que fiquei nervoso, mas, por enquanto, estava tudo normal. Mulheres passam mal! Coisa da vida! Mulheres vão para o hospital! Os profissionais da saúde estão lá para isso! Mulheres somem sem dar recado para o seu marido depois das 23 horas enquanto estão em uma cidade na qual 3 a cada 5 homens são bonitos o suficiente para serem figurantes na novela Malhação, da Globo! Acontece.

Contudo, quando ela me ligou, por volta das 2 horas, o anúncio da gravidez foi tudo, menos normal. Ela entrou em uma vídeochamada e disse:

_ Lucas, tesão da minha vida, tenho duas coisas para te falar. Uma ruim e uma boa. A boa é que vamos ter um bebê…

E claro, ela parou neste instante para fazer uma pausa dramática – ou parou porque as pessoas grávidas ficam com fôlego de fumantes asmáticos, não tenho certeza. 

Eu lembro disso direitinho. Foi a melhor notícia da vida, claro que me recordo com precisão. Não cheguei a gritar de felicidade, nada disso, pois ainda viria a notícia ruim… E uma notícia ruim depois de avisar a gravidez? Oxi, eu só podia ser corno. 

A minha cabeça foi às alturas e refleti sobre a probabilidade de ser pego por atropelamento de um amigo da Bárbara, que sempre tive ciúmes. Não me julgue por isso! O ser humano é estranho (ainda mais o com chifres). 

 Aliás, refletindo bem, acho que se fosse hoje, eu nem ligaria tanto. Vira e mexe alguém chega para mim e fala:

_ Ou, esse menino é bonito. Tem certeza que é seu?

No começo essa pergunta me incomodava. Atualmente, na verdade, dá até uma esperança. Seria ótimo ter o pai biológico do Gabriel para dividir as despesas. 

Após esse breve momento de alucinação, eu fiz o que qualquer homem que acha que foi corno, e ao mesmo tempo é curioso, faria. Virei para a Bárbara, que ainda estava na vídeochamada, esperando eu parar de me emocionar, e perguntei: 

_ E a notícia ruim?

E ela deu uma fungada e disse:

_ Estou com trombose venosa superficial.

Nós dois nos olhamos por um tempo. Eu fiquei um pouco sem reação, pois vieram tantas coisas na minha cabeça. Como ela pegou a trombose? A superficial é mais tranquila? A gente podia ter feito algo para evitar? Gabriel estava em risco? Várias perguntas, no entanto a única que realmente eu tive vontade de falar naquela hora foi:

_ Você tem certeza que não sou corno?

A ligação terminou alguns minutos depois e eu confesso que tinha poucas informações sobre trombose. Fui no google e pesquisei o que era, qual a lesividade, os problemas que ela poderia causar. No final, fui procurar as possíveis causas e percebi que uma das primeiras era justamente a gravidez. Diante de uma informação dessas, a única coisa que pensei foi:

_ Matei a Bárbara embuxando ela.

Confesso que chorei muito e custei a dormir – só lá para as 4 horas da manhã finalmente peguei no sono. Antes, fiz uma oração. Orei pela Bárbara e por meu filho (que depois descobri ser o Gabriel). Lembro de falar que eles eram puros, mereciam viver e que, se fosse necessário, que Deus me levasse ao invés deles.

Enfim, a gravidez aconteceu, Gabriel nasceu, ele não veio parecido com o amigo da Bárbara e o parto conseguiu talvez ser mais emocionante até que o anúncio da trombose – e sou muito grato a Deus, pois tudo deu certo… Ele é bom… 

Mesmo assim, de vez em quando ainda oro e falo:

_Senhor, era brincadeira… Se puder deixar os três…