A maldade humana

O ser humano tem um sério flerte com a maldade. E nem preciso da teologia ou filosofia para divagar sobre o tema. O IBOPE constata nossa aptidão ao mal: o MMA é um dos esportes mais assistidos da televisão (inclusive por mim), enquanto o programa Bem Estar só é visto por quem perdeu o controle remoto.

A TV brasileira é o covil dos malignos. Programas como o do Faustão, do João Kleber e do Sílvio Santos estão há mais de 20 anos no ar, ensinando ao brasileiro a ser desprezível. Eles nos fazem rir com a dor alheia (Vídeo Cacetadas), traição (Teste de Fidelidade) e estelionato (afinal de contas, nós sabíamos que ninguém nunca conseguiria descer no escorregador do Topa Tudo Por Dinheiro com aquela bandeja cheia de copos com kisuki vermelho, mas, mesmo assim, ficávamos vendo).  

Mas nem todo ser humano nasceu para ser apresentador de TV. Alguns nasceram para ser a mulher que desce com o copo cheio de kisuki vermelho. E não tem como mudar! Trata-se de outro exemplo claro da predestinação divina. É melhor deixar seu lado cruel calado, a não ser que você seja um profissional. Se não for, se recolha a sua bondade, pois os bons possuem uma habilidade fenomenal de se lascarem ao tentarem a perversidade.

Eu mesmo evito ao máximo. Sempre que possível, tento fazer o bem, pois já percebi que minha capacidade de ser ruim é ridícula. Eu gostaria de dizer que tento ser bom pensando em Deus, que quero ir para o céu, ser um bom exemplo pro Apolo… Mas a grande verdade é que, na maioria das vezes que tenho oportunidade de fazer o mal, nem lembro deles. Deixo de fazer, não por um ato de bondade, mas por medo da lambança e de quem a esteja vendo: o fisco, o Japonês da Federal, o Stallone Cobra, a Bárbara.

Mas há pessoas que insistem na arte da perversidade, mesmo sendo péssimas. Não citarei José Dirceu, Palocci, Temer, Cabral e outros famosos nomes brasileiros, célebres por serem pegos em sua maracutaias, quase todos com hat-trick na Lava Jato. Eles vocês já conhecem! Citarei o caso de um rapaz que conheci no meu serviço.

Eduard Khil, o Rei do Trololó (nome fictício), era um motoboy que não tinha carteira de habilitação. Se ele fosse um “bom” ser malvado, daqueles de qualidade mesmo, verdadeiro mensageiro do Tinhoso na terra, já perceberia que isso daria problema. Motoboy com CNH já tem problemas demasiados na vida, imagina sem! Mas Khil não achou que era suficiente! Ele tinha que juntar ainda outro elemento explosivo a sua habilidade de fazer maldade e merda ao mesmo tempo.

Certa vez, quando foi entregar uma “quentinha”, parou a moto na esquina. Ao voltar, enorme foi sua surpresa ao perceber que sua moto sumira. Desesperado, o Rei do Trololó ligou para a PM, avisando do ocorrido. A chefia militar empenhou policiais no intuito de averiguar o caso, todavia, ao chegaram ao local informado, Eduard estava fumando maconha.

Eduard certamente é um fracasso medonho na história da criminalidade.

O Apolo é outro exemplo, mostrando que as aptidões ao mal e à titica também abrangem a espécie humana canina. Certa vez, enquanto estava caminhando com ele, resolvi ligar para Raquel. No meio do caminho, vi a aproximação de um cachorrinho de rua, desses pobres coitados e maltratados, mas que, mesmo assim, são mais bonitos que meu cachorro.

Percebi que rolara certo interesse entre os dois. Observei por um tempo aquele flerte, sendo que Apolo, um serial-sarrador canino, começara a tentar “cortejar” seu novo amiguinho. Continuei a conversa com minha irmã, deixando que os cachorros se entendessem, afinal de contas, eu sou um pai desconstruído sem qualquer preconceito. E me distrai com o caso que Raquel estava contando.

Do nada, comecei a ver que o Apolo puxou sua corrente. Como estava conversando, dei umas puxadinhas na corda, o que mundialmente significa: “Para de safadeza, infeliz”. Senti novamente a corrente puxando rápido e dei imediatos dois toquinhos. Entretanto, ele insistiu agora mais forte. Olhei então pro meu pequenucho. Foi quando percebi que Apolo, o rei das sarradas históricas, corria desesperadamente tentando não ser deflorado pelo cachorro mendigo.

Por isso, se você optar por ser uma pessoa má, seja de verdade. Os mais ou menos malvados são os primeiros a serem pegos, pela PM ou por algum sarrador maluco por aí. Não basta ser malvado, tem que ser daqueles que colocam papelão no meio do hambúrguer! Só este tipo de maldade pode se perpetuar no tempo. Se você não for assim, melhor desistir da carreira de apresentador de televisão.