Nada temos a piorar

As redes sociais têm nos feito acreditar que tempos piores virão, afinal de contas, estão povoadas de atos de racismo, intolerância, preconceito, exclusão, discriminação e gordinhos dançando com roupas caras. Infelizmente, a internet nos permitiu ouvir aqueles que deveriam ter ficado calados. Todavia, há uma grande esperança: a nova geração! Não a minha ou a sua, que já está perdida mesmo. E nem acho que é culpa nossa! Passamos a infância vendo nossos heróis da não conseguirem fugir da “Caverna do Dragão”. Com tanta frustração e ódio no coração, não me parece ilógico o fato das pesquisas eleitorais apontarem como favorito o Bolsonaro…

Por isso, a esperança está na geração que foi criada vendo “Encontro com Fátima Bernardes”, programa no qual ninguém fala nada com nada, mas todo mundo sai feliz e empoderado. E a prova concreta de que o mundo será mais tolerante e pacífico no futuro é a minha sobrinha, Rafaela, de sete anos.

Basta olhar para ela para entender que a nova geração é até fisicamente menos excludente: é morena, já mede 1m e 40 cm (tamanho que, nesta idade, só os vikings alcançariam), tem olhos puxados (lembrando algo meio oriental) e, além disso, são azuis. Na boa, eu não sei como os pais dela conseguiram fazer isso! Provavelmente um dos dois estava a cabeça bem longe naquele momento:

_ Como é que era o elenco de Power Ranger original mesmo?… Era um loiro, um negro, a japonesa…

É como se tivessem feito a criança em uma espécie de balcão do Subway:

_ Bom dia, o que vai colocar hoje?

_ Um pouco de tudo, por favor…

E ninguém consegue juntar todas as características físicas dos povos que vão à Copa do Mundo da Rússia sem ter consequências psicológicas. No caso, o que acho mais interessante na Rafaela é sua capacidade anormal de ser religiosamente sem religião definida.

Quando ela tinha 3 para 4 anos, estudava em um colégio não denominacional, vulgo, colégio normal. Quando íamos a uma festa junina ou algo assim, sempre tocava Gustavo Lima, Anita, Ludmila. A Rafa dançava muito, fazendo aqueles movimentos insanos que só funkeiros (e pessoas tendo epilepsia) conseguem fazer.

Hoje, ela estuda em uma escola denominacional evangélica. Quando tem festa, não passa mais estes tipos de música. Sempre tocam Diante do Trono, Fernandinho, Regis Danese, Aline Barros. Contudo, isso não é um problema para Rafaela, que sempre dança muito. De fato, a pequenina foi a única pessoa que eu já conheci que faz “sarrada no ar” ouvindo música da Ana Paula Valadão.

Como se não bastasse, ela é um exemplo de como todas as religiões podem conviver doutrinariamente.

Outro dia mesmo comprei uma bíblia para presentea-la, que se chamava “Bíblia da menina” (que, pela versão, deve ser ARI – Versão Almeida Resumida e Inventada). Assim que ela pegou o presente, começou a me dar um sermão sobre Cristo:

_ Sabe, Jesus morreu por nós. Por que Deus é amor e é bom. Mas nada que nós façamos vai ser suficiente pra ele, já que morreu, mas tá vivo, igual Maria. Então temos que ver, porque, eu tenho que ser uma pessoa boa, porque quando eu voltar em outra encarnação, eu quero ser a Larissa Manoela…

E foi aí que percebi que a Rafaela consegue coexistir todas as religiões em uma pessoa só. Em uma simples frase, agregou a teoria da graça protestantes da sua escola, a marientologia católica do nosso país, o espiritismo da mãe dela e uma espécie de seita de adoração de atrizes do SBT do ela mesmo inventou…

Enfim, se ela não ganhar um prêmio Nobel da Paz por isso, nem sei quem ganharia…